Sónia Sultuane lançou a sua mais recente obra literária (poesia) esta quinta-feira, pela Fundação Fernando Leite Couto, na Cidade de Maputo.
A capa d’O lugar das ilhas, de Sónia Sultuane, apresenta duas cadeias azuis, num lugar que se adivinha alto, à beira-mar, algures na Grécia. Enquanto escrevia o seu novo livro, a poeta passou por aquele lugar e zás… logo percebeu que ali estava a capa que agora é partilhada com os leitores. Naquele instante, a poeta deixou as palavras à parte e, recorrendo à arte da imagem, segurou a câmara e eternizou a memória daquele instante em jeito de fotografia.
As cadeiras, na capa do livro, evidentemente, estão vazias. Tudo propositado. Sónia Sultuane quis uma capa assim, de modo que os leitores percebessem que o assento não está reservado a uma pessoa em particular, mas a todos que possam desejar uma aventura pela estética do seu novo livro de poesia. Afinal, virtualmente, ali está um lugar “à espera de qualquer um de nós”.
Segundo disse Sónia Sultuane, na cerimónia de apresentação do seu livro, na Fundação Fernando Leite Couto, se, por um lado, O lugar das ilhas é um diálogo emocional com a Ilha de Moçambique, por outro, é um processo que se foi multiplicando por outros espaços. A capa é uma prova disso. “A Ilha [de Moçambique] mexeu muito comigo porque faz parte das minhas memórias e dos sonhos que construí à volta disso. Quando eu era mais pequenina, pensei que teria outra vida, outro percurso. Aquele lugar, aquela paz, despertou em mim a continuação do que ando a escrever”. Foi a essa altura que esclareceu: “O lugar das ilhas não é um livro pensado ou sentido apenas na Ilha de Moçambique. Pode parecer, mas não é”.
Como que a concordar com a escritora, o apresentador do livro, o professor de literatura Nataniel Ngomane, explicou que as ilhas retratadas no novo livro de Sónia Sultuane não são necessariamente geográficas (Ilha de Moçambique, Cuba e as ilhas da Grécia), são ilhas que existem na forma de pensar humana. “A nossa maneira de pensar é composta de várias ilhas: a ilha do amor, a ilha da imaginação, a ilha do feitiço, da crença e etc. São várias ilhas que nos fazem. Portanto, é este O lugar das ilhas que repousa no ser humano que a Sónia tenta apresentar de uma forma bastante ampla”.
Para Nataniel Ngomane, o mais recente livro de Sónia Sultuane representa uma consolidação bastante sólida do percurso da escritora, desde o primeiro livro, Sonhos. “Ela mostra neste livro que conseguiu atingir esse nível alto, como artista da palavra, como poeta e com muita tranquilidade”.
Ao reler Sónia Sultuane, Ngomane explicou o que mais foi marcante em O lugar das ilhas. “Enquanto nos primeiros livros era uma Sónia mais próxima a uma leitura mais perceptível, visual, neste mergulhamos totalmente não num olhar que pode ser captado pelos olhos, mas num olhar que apenas a imaginação pode produzir. Ao fazer isso, ela produz em nós outras sensações. Portanto, há aqui um cruzamento daquilo que se pode chamar de lírica, mas na sua intensidade emocional”.
Mesmo a propósito daquelas cadeiras azuis, à beira-mar, fotografadas algures na Grécia para na capa do livro, Sónia Sultuane frisou que aquele é um dos lugares onde se sentou para captar as diferentes linguagens poéticas do mundo. Daí o convite para os leitores…
Fonte: O Pais